sábado, 27 de outubro de 2012

Por que os jovens saem da igreja? [Parte 1]

Creio que todo jovem nascido em lar cristão já se questionou sobre sua frequência à uma igreja, ou quanto à adesão ao cristianismo. Pois eu também já fiz questionamentos sérios, e sinto que sair da igreja passa pela cabeça de muita gente, incluindo, talvez, você!

Uma coisa me intrigou bastante ao me deparar com o desafio de falar a um grupo de adolescentes em um acampamento recente. Leitor assíduo de Paul Washer, e assistente de seus sermões, fico admirado ao ver em sua postura o desejo que as pessoas levem Deus a sério. Esse pregador (aconselho que assistam a esse sermão, para conhecê-lo melhor) que busca trazer a realidade bíblica de pecado e inferno para os seus ouvintes me inspirou a pesquisar os motivos pelos quais jovens deixam as igrejas todos os dias. E lá fui eu atrás dos dados que me assistissem nessas constatações.

Ao longo dos próximos posts (não sei quantos serão ainda), falarei sobre minhas impressões a respeito da pesquisa encontrada nesse site, que já apresenta inclusive análises do presidente do Grupo Barna, responsável pela pesquisa. Espero não ser repetitivo, mas que Deus possa conduzir o pensamento, levando-nos a refletir sobre uma realidade que ameaça diretamente a igreja.

Antes de começar a falar dos resultados da pesquisa, precisamos entender em que contexto vivemos, tanto dentro da comunidade cristã, quanto fora desta. Essa análise é muito importante, pois nos auxilia a ver em que mundo estamos pisando, e como esse mundo nos influencia, direta ou indiretamente.

O mundo em que vivemos

Primeiramente, precisamos entender o mundo que nos envolve, e diariamente nos bombardeia com informações e valores dentro de nossas casas. 

Uma das características mais marcantes de nossa sociedade é a relativização das ideias e das verdades presentes em nossas vidas. Guilherme de Carvalho é bem claro ao afirmar que, no mundo, todas as coisas são relativas, à exceção de Deus. Quando tiramos Deus de foco, e passamos a colocar os referenciais nas coisas e nas pessoas, perdemos qualquer dimensão universal e inquestionável para nossas ações. A partir de então, a minha verdade é soberana, inclusive sobre a do próximo. Os questionamentos não são mais bem vindos, e o respeito deve prevalecer para que haja boa convivência entre as pessoas. Quando Deus é removido do horizonte, ficamos apenas com o que somos. Coisa terrível é sermos lançados sobre nós mesmos.

Além da relativização das verdades, vivemos em uma sociedade imersa em inovação. O tempo se move mais rápido, e o que é antigo se torna desprezível. C.S. Lewis dá um nome à esse movimento de Esnobismo Cronológico. É como se aquilo que é antigo não tivesse valor, por estar ultrapassado. A nossa sociedade, além de não querer envelhecer, apresenta enorme resistência àquilo que considera ultrapassado: religião, abstinência sexual antes do casamento, constituição familiar, moral e ética, tudo vem sendo lançado fora das reflexões diárias por estarmos vivendo em uma sociedade "avançada", onde não precisamos mais de muletas criadas no passado para viver.

Obviamente, considerando a relativização das verdades e o esnobismo cronológico, seria fácil deduzir que as famílias não apresentam mais o mesmo ambiente e segurança dos quais nossos avós puderam presenciar. A estrutura familiar, além de considerada ultrapassada, já não é mais fundamental para que a sociedade funcione de maneira harmônica. A relação conjugal passou a ser uma relação contratual, onde cada um cumpre com seu papel, e em caso de descumprimento, o rompimento do contrato. Filhos, projetos, todos ficam à mercê do gosto dos casais, que se propõem cada vez menos a enfrentar a dura vida conjugal.

Não bastasse a estrutura familiar ruída, ainda convivemos com os que fogem de qualquer realidade que envolve compromissos. Nossa sociedade vive uma febre hedonista que nos remete à antiga Roma. Buscamos o nosso próprio prazer a qualquer custo sem pudor algum. Pagamos nossas contas, e fazemos o que quisermos, sem prestar contas a ninguém. Nossa sociedade constrói ídolos cada vez mais desconexos da nossa realidade, pautados apenas na busca pela satisfação de seus desejos, conseguidos com dinheiro fácil e com projeção na mídia.

Bom, esse é o cenário que podemos perceber, sem dificuldade alguma, ao olhar ao nosso redor. Porém, nossas igrejas também estão cheias de problemas.

A igreja em que vivemos

Nunca na história da igreja se percebeu tamanho descompromisso dos pais com a educação cristã dos filhos. Salvas raras exceções, não percebo movimento algum nas famílias para manter os cultos domésticos, ou sequer um crescimento do conhecimento da Palavra nas crianças, que não ultrapasse a educação dada nas escolas dominicais.

Assim como no mundo, os pais de dentro da igreja estão terceirizando a educação cristão de seus filhos. Não precisa de ir muito longe para entender a antibiblicidade desse descaso (I Tm 4:12; Pv 22:15; Pv 23:13-14).

É perceptível, talvez até por consequência da educação recebida, a falta de compromisso e o esfriamento dos jovens na igreja. E aqui eu quero me ater a um ponto importante. Jovens avivados, conforme o próprio Paul Washer concebe, não tem nada a ver com cultos jovens animados, regados a músicas animadas, saltos, lágrimas e qualquer tipo de expressão momentânea de sentimento. Creio que o anseio pela leitura da Palavra, vida de oração e a busca por conhecimento de Deus, através de livros teológicos e de textos que busquem responder às questões relativas à realidade são os principais meios de demonstração de avivamento. Como diz o salmista, assim devemos dizer: "escondi a Tua Palavra no meu coração, para eu não pecar contra Ti" (Sl 119:11).

Outro reflexo que podemos observar em nossas igrejas diz respeito ao aumento dos "desigrejados". São pessoas que aderiram à alguma denominação evangélica, mas que sofreram alguma decepção, ou não fora satisfeitos em suas expectativas, e hoje estão fora da igreja. Esse número tem aumentado consideravelmente, e em muito por culpa das próprias igrejas, que vendem um evangelho barato e palatável, omitindo o que realmente importa, e criando crentes que nunca evoluirão na fé.

Por fim, quero enfatizar um fato que é constatado estatisticamente, para tristeza das lideranças eclesiásticas no mundo: o cristão tem vivido como o não cristão. Não temos diferença alguma com relação às demais pessoas que professam outra fé, ou fé alguma. Reportagem da Cristianismo Hoje relata, de maneira bem clara, que 56% dos evangélicos já fizeram sexo antes do casamento, e 25% já traíram. A constatação da pesquisa é tão relevante quanto os dados: "Isso não quer dizer, evidentemente, que o evangélico traia mais", ressalva Danilo Silvestre Fernandes, idealizador do Bepec e da pesquisa. "Apenas que os crentes, em diversos aspectos, não diferem tanto assim das pessoas que a Igreja convencionou chamar como ‘do mundo’.".

Com vistas nesses dois cenários quero finalizar essa primeira parte dos estudos. A intenção aqui não é avaliar se os jovens se converteram ou não nas igrejas, mas constatar o que a igreja pode fazer para apoiar seus jovens e permiti-los ter um ambiente que proporcione um relacionamento profundo com Deus.
Fiquem na paz!
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