quinta-feira, 27 de março de 2014

Por que tentarei não comentar políticas/ideologias/frivolidades nas redes sociais

Um dia você aprende…

 

As redes sociais são grandes repositórios de informações inúteis. Fato. Nada superabunda mais nas redes do que memes, piadas, vídeos imotivacionais, entre outros assuntos comentados por não conhecedores de coisa alguma.

Algumas pessoas estudam um pouco mais, e avançam o seu conhecimento de tal forma que constroem raciocínios interessantes e até certo ponto relevantes na internet. Mesmo estas, acabam muitas vezes caindo no ostracismo, e se tornam gurus que não contribuem para a reflexão, mas sim à cauterização de ideias pouco proveitosas e já pré-estabelecidas. Defendem suas correntes com unhas e dentes, mesmo que para isso tenham que usar argumentos totalmente descabidos.

A grande maioria não estuda nada. Não lê uma notícia por completo. Não se importa com o outro lado da moeda. Não está nem aí para os reflexos de suas opiniões e comentários. Lêem os títulos dos noticiários, quando muito. Lêem menos do que os 2,1 livros lidos em média pela população brasileira. Não têm uma formação sólida em suas opiniões. Ficam apenas as opiniões. Isoladas, soltas e vagas.

Já discuti bastante nas redes sociais sobre políticas públicas, direitos humanos, defesa de minorias e outros assuntos relacionados à religião. Sou um entusiasta do debate, e coço quando vejo uma polêmica pronta a ser dissecada pelos neurônios e absorvida pela ética. Porém, não mais quero discutir.

As ideias que expõem sempre te colocarão de um lado. Fato. O problema é que não foi você quem pediu para ser colocado daquele lado.

Existem matérias jornalísticas para defender todos os pontos de vista ideológicos, políticos, religiosos e até sexuais. Você pode defender que quer fazer sexo a 3, 4 ou 1000 usando o documentário do Poliamor. Pode querer defender a sua visão conservadora a respeito da mulher mostrando artigos anti-feministas com argumentos bem consistentes mostrando os exageros por parte do feminismo atual, ou mesmo as reportagens mostrando as militantes da Marcha das Vadias se masturbando com crucifixos. Você pode querer defender que sua religião é legal usando artigos mostrando que membros do Candomblé assassinaram uma criança em um ritual, mostrando que aquele povo é do capeta, e que você é de Deus. Pode mostrar que os crentes são ridículos, por meio de matérias que mostram pastores extorquindo o povo. Pode usar qualquer matéria! Qualquer uma!

Você pode defender a esquerda e suas liberalidades usando os artigos dos sociólogos marxistas que estão em todas as universidades do Brasil, ou pode buscar defender a direita e seus fundamentalismos usando os textos do Olavo de Carvalho ou os vídeos da Raquel Sherazade. Argumentos existem dos dois lados. Uns apelam aos direitos humanos, outros apelam ao direito à propriedade e às obrigações do Estado.

Quando você diz algo que coaduma com a opinião de qualquer destes caminhos, imediatamente é taxado. Ridicularizado. Ares de decepção surgem de todos os lados. Ou você é um déspota, ou é um radical, ou um fundamentalista, ou um utópico. Um religioso ou um cético (acredite, ambos podem ser títulos pejorativos!).

De hoje em diante, não mais comentarei. Quando surgir um assunto polêmico, comprarei os livros sobre aquele tema, e me aprofundarei de tal forma que consiga sustentar os meus argumentos, passando-os primeiro pelo meu próprio crivo (alto, por sinal). As contribuições neste mundo não se restringem às redes sociais. Elas são grandes ferramentas. Revoluções ainda esperam para ocorrer. Posições ainda precisam ser consolidadas. Decisões quanto aos aspectos humanos mais latentes precisam de ação e reflexão.

Apesar de pertencer a uma geração internética, e de ser estudioso das redes sociais, voltarei ao velho método: sentarei minha bunda na cadeira e irei estudar antes de proferir asneiras pela internet. Quem sabe assim, se todos fizerem, as redes sociais não se tornam de vez dispensáveis, por conter apenas as asneiras, e nos dê coragem para desativar permanentemente nossos Facebooks? Ou quem sabe se todos começarem a estudar antes de falar, não conseguiremos fazer das redes sociais um ambiente mais útil, onde consigamos reduzir a quantidade de filtros, e onde consigamos reduzir consideravelmente tudo o que coaduma com a irracionalidade e com a falta de respeito ao próximo?

Publicado originalmente em https://medium.com/p/a92e89f21b41