terça-feira, 27 de novembro de 2012

Pobre de mim... Pobre de nós...

Como fazer para derrotar o orgulho? E como fazer a humildade imperar em um reino onde a amargura, o ressentimento e a falta de perdão insistem em impregnar nas pessoas?

Todos são orgulhosos, mas eu não! Jamais, enquanto criatura salva, poderia deixar o orgulho reinar em mim! Sou realmente mais destacado, e tenho certeza de que faço sempre a vontade de Deus!

E quanto ao pecado? Todos à minha volta tem a ficha suja, mas eu não! Os meus pecados são mais leves, são deslizes apenas. Deus não se importa tanto com os meus, pois Ele conhece o meu coração!

E assim, a igreja vai cedendo à vontade do anjo de luz, brilhando (?) em cada membro, em separado, mas nunca iluminando o céu com um clarão de luz completa.

A começar por mim, quero ver meu orgulho quebrado, humilhado, destruído. Quero sentir a alegria de, no pó, no lamaçal de pecado, orgulho e dor, sentir o sangue me lavando, e me mostrando que sou um com o outro.

Os fracos pecam pelo orgulho, os fortes pelo desprezo. Enquanto todos os elos não estiverem ligados à corrente, jamais experimentaremos comunhão verdadeira. Pobres de nós! Tamanha riqueza à frente, e nunca a conheceremos!

terça-feira, 13 de novembro de 2012

60 Minutos em Viçosa - Encontro com a História

Estive em Brasília durante o fim de semana com o intuito de participar do VI Encontro Intersetorial do sindicato dos professores, o ANDES-SN. Na volta, após o fim do voo, uma grande surpresa. Estava lendo o livro de John Piper, "As raízes da Perseverança", uma biografia de três grandes nomes da história cristã, contemporâneos e que influenciaram bastante sua época, e que tiveram como marca maior a perseverança na fé. Ao ler, me remetia a pessoas que conheço, e que certamente são exemplos dessa perseverança, entre elas o reverendo Elben Lenz César, pastor, escritor e responsável pela criação da revista e editora Ultimato. Me recordei com muita nitidez de seus sermões na Igreja Presbiteriana de Viçosa, onde ele levava revistas para o púlpito, com o intuito de alertar a igreja da real necessidade do homem de perdão e de restauração. A depravação do homem sempre foi tema em suas exposições, e lembro de seu entusiasmo por relatar histórias do surgimento da igreja em Viçosa, bem como de personagens da reforma protestante.

Não por acaso, comprei um livro escrito pelo próprio Reve (como é conhecido) por esses dias, livro este que conta a história de Simonton ao chegar ao Brasil, e pensei: quem sabe não escrevem sobre esse grande instrumento de Deus que se preocupa tanto com as memórias da igreja brasileira?

Quando o voo foi finalizado, pessoas se levantando correndo para sair o quanto antes, e pegar as bagagens, e eis que vejo um senhor de cabelos brancos, tranquilo, com um livro de Caio Fábio em mãos. Todos correndo, e ele ali, envolto em sua leitura sem muita pressa. A medida que fui me aproximando, percebi de quem se tratava, e fui logo abrindo um sorriso, o qual foi respondido com um sereno "Olá, meu jovem!". Sempre que vejo pessoas que me marcaram, me emociono, e não foi diferente ali. Como todos estavam correndo, fui à frente e o aguardei na saída do avião. Pensei então: fui presenteado e surpreendido por Deus. Tenho que conversar com esse homem!

Para os que não conhecem, o aeroporto de BH fica há uma hora da cidade. É preciso pegar um ônibus, que atravessa vários quilômetros antes de chegar ao centro de Belo Horizonte. E pensei: uma hora para matar a saudade e ouvir um verdadeiro servo.

Aguardando as bagagens, o Reve já me adiantou que estava voltando de uma igreja, na qual foi pregar, e que ficaria em BH durante essa semana. Disse-me de seu intento em escrever de maneira mais isolada, e da disponibilidade dada pela sua esposa, a Djanira, a qual ele sempre remete em suas falas. Fui tocado nesse momento por um sentimento enorme de alegria e um desejo dos maiores de ter uma família como essa. 82 anos de vida, e um amor tão grande pela esposa, que nos faz questionar porquê nos permitimos vivemos tantos relacionamentos vazios em nossa sociedade. Buscamos prazeres menores, por medo ou covardia de ir em busca dos maiores prazeres, que emanam de Deus.

Antes de ingressar no ônibus, como é de seu costume, ele tirou uma das últimas edições da revista Ultimato de sua bolsa, e me deu de presente. Que saudade de Viçosa, das Ultimatos sempre ganhas na IPV, dos descontos da livraria, dos EMEPs, da ABU, do Água Viva, de tudo... senti o cheiro da terra molhada naquele momento, após períodos áridos no fim de semana.

Ao chegar no ônibus, lotado, não conseguimos arrumar lugares para sentarmos ao lado um do outro. Na hora só pensei: tenho que aproveitar o tempo ao lado dele. Esperamos todos sentarem, tentando resolver o problema dos assentos, e pedi à uma simpática jovem que trocasse de lugar comigo. Uma coisa só na cabeça: preciso conversar com ele.

Chamando-o de "senhor", por educação, fui logo rechaçado com uma frase que me trouxe mais saudades: "Você, meu jovem. Não perca o espírito da IPV, trate-me como 'você'!".


A viagem foi iniciando, e logo pude ouvir mais sobre a jornada que o Reve estava planejando traçar: iria para um mosteiro de freiras em BH para melhorar sua concentração e acelerar a escrita de um novo livro, que envolve um personagem muito importante da igreja brasileira do final do século passado. Discutimos um pouco sobre os escritos, e me dispus a contribuir. Essa semana devo visitá-lo no mosteiro, com o intuito de levar o material que coletei para seus estudos. Ao ouvi-lo, senti a paixão daquele que quer ver uma igreja pura e reta, e que luta para manter aqueles que Deus capacitou outrora, e que se deixaram levar no caminho.

Após falar sobre os escritos, sobre a igreja, e sobre os meus interesses nos estudos teológicos, pude compartilhar com ele sobre os meus anos pós-Viçosa. Estudos, relacionamentos, igrejas, decepções, conquistas, alegrias, tristezas, e toda a minha história foi sendo desenrolada enquanto aquele homem, o qual considero sobremaneira, fazia perguntas pontuais e se alegrava com as notícias. Vivi ali a IPV por 60 minutos. Por uma hora, senti saudades, me emocionei por dentro, senti a igreja de Cristo sendo trazida, por meio da comunhão até mim, e pude religar minha vida com algo que, no passado, parecia distante.

Tenho orado bastante, e pedido à Deus que me capacite para produzir bons textos. Peço que meus textos influenciem os jovens, e que resgatem essa geração das falácias, das enrascadas e das armadilhas que nosso mundo hipermoderno oferece. Tenho orado para que Deus me use, de maneira graciosa, como a Timóteo, como a Neemias, como a Estevão, como a Elben Lenz César, para que minha vida não seja sem sentido. E vivi, ali, naquele ônibus inesperado e surpreendente, o renascer de uma esperança que me ataca o coração todos os dias, quando me deparo com a Palavra, e com homens que me inspiram a viver mais e mais a história de Deus.

Provavelmente, na quinta, irei entregar o material para o Reve, e já fico animado, só de pensar em quantas riquezas Deus pode ter guardadas nas palavras daquele homem sincero, ciente de sua natureza pecaminosa, resgatador dos perdidos e missionário em todos os lugares.

Soli deo gloria!