Um dia você aprende…
As redes
sociais são grandes repositórios de informações inúteis. Fato. Nada
superabunda mais nas redes do que memes, piadas, vídeos imotivacionais,
entre outros assuntos comentados por não conhecedores de coisa alguma.
Algumas
pessoas estudam um pouco mais, e avançam o seu conhecimento de tal
forma que constroem raciocínios interessantes e até certo ponto
relevantes na internet. Mesmo estas, acabam muitas vezes caindo no
ostracismo, e se tornam gurus que não contribuem para a reflexão, mas
sim à cauterização de ideias pouco proveitosas e já pré-estabelecidas.
Defendem suas correntes com unhas e dentes, mesmo que para isso tenham
que usar argumentos totalmente descabidos.
A grande
maioria não estuda nada. Não lê uma notícia por completo. Não se importa
com o outro lado da moeda. Não está nem aí para os reflexos de suas
opiniões e comentários. Lêem os títulos dos noticiários, quando muito.
Lêem menos do que os 2,1 livros lidos em média pela população
brasileira. Não têm uma formação sólida em suas opiniões. Ficam apenas
as opiniões. Isoladas, soltas e vagas.
Já discuti
bastante nas redes sociais sobre políticas públicas, direitos humanos,
defesa de minorias e outros assuntos relacionados à religião. Sou um
entusiasta do debate, e coço quando vejo uma polêmica pronta a ser
dissecada pelos neurônios e absorvida pela ética. Porém, não mais quero
discutir.
As ideias que expõem sempre te colocarão de
um lado. Fato. O problema é que não foi você quem pediu para ser
colocado daquele lado.
Existem
matérias jornalísticas para defender todos os pontos de vista
ideológicos, políticos, religiosos e até sexuais. Você pode defender que
quer fazer sexo a 3, 4 ou 1000 usando o documentário do Poliamor. Pode
querer defender a sua visão conservadora a respeito da mulher mostrando
artigos anti-feministas com argumentos bem consistentes mostrando os
exageros por parte do feminismo atual, ou mesmo as reportagens mostrando
as militantes da Marcha das Vadias se masturbando com crucifixos. Você
pode querer defender que sua religião é legal usando artigos mostrando
que membros do Candomblé assassinaram uma criança em um ritual,
mostrando que aquele povo é do capeta, e que você é de Deus. Pode
mostrar que os crentes são ridículos, por meio de matérias que mostram
pastores extorquindo o povo. Pode usar qualquer matéria! Qualquer uma!
Você
pode defender a esquerda e suas liberalidades usando os artigos dos
sociólogos marxistas que estão em todas as universidades do Brasil, ou
pode buscar defender a direita e seus fundamentalismos usando os textos
do Olavo de Carvalho ou os vídeos da Raquel Sherazade. Argumentos
existem dos dois lados. Uns apelam aos direitos humanos, outros apelam
ao direito à propriedade e às obrigações do Estado.
Quando
você diz algo que coaduma com a opinião de qualquer destes caminhos,
imediatamente é taxado. Ridicularizado. Ares de decepção surgem de todos
os lados. Ou você é um déspota, ou é um radical, ou um fundamentalista,
ou um utópico. Um religioso ou um cético (acredite, ambos podem ser
títulos pejorativos!).
De hoje em diante, não mais
comentarei. Quando surgir um assunto polêmico, comprarei os livros sobre
aquele tema, e me aprofundarei de tal forma que consiga sustentar os
meus argumentos, passando-os primeiro pelo meu próprio crivo (alto, por
sinal). As contribuições neste mundo não se restringem às redes sociais.
Elas são grandes ferramentas. Revoluções ainda esperam para ocorrer.
Posições ainda precisam ser consolidadas. Decisões quanto aos aspectos
humanos mais latentes precisam de ação e reflexão.
Apesar de pertencer a uma geração internética,
e de ser estudioso das redes sociais, voltarei ao velho método:
sentarei minha bunda na cadeira e irei estudar antes de proferir
asneiras pela internet. Quem sabe assim, se todos fizerem, as redes
sociais não se tornam de vez dispensáveis, por conter apenas as
asneiras, e nos dê coragem para desativar permanentemente nossos
Facebooks? Ou quem sabe se todos começarem a estudar antes de falar, não
conseguiremos fazer das redes sociais um ambiente mais útil, onde
consigamos reduzir a quantidade de filtros, e onde consigamos reduzir
consideravelmente tudo o que coaduma com a irracionalidade e com a falta
de respeito ao próximo?
Publicado originalmente em https://medium.com/p/a92e89f21b41
Publicado originalmente em https://medium.com/p/a92e89f21b41