segunda-feira, 3 de junho de 2013

Acepção de Pessoas no Serviço Eclesiástico


Todos concordamos que devemos servir a Deus e ao Seu Reino. Todos também concordamos que, como Corpo, temos funções diversas e específicas. Porém, nem todos estamos vinculados ao serviço eclesiástico (trataremos aqui apenas deste serviço, não excluindo que o serviço ultrapassa ministérios dentro da igreja). A má inserção no Corpo de Cristo pode custar, muitas vezes, a vida de um cristão na igreja. Por causa de vaidades e orgulho, muitos são discriminados e colocados à margem por serem pré-julgados, antes mesmo de se integrarem fortemente ao Corpo de Cristo.

Existem muitos cristãos (consideraremos aqui cristãos verdadeiros, autênticos e sinceros diante de Deus) que se encontram em plena disponibilidade para servir, porém não encontram espaço na sua comunidade local, ou mesmo são desmerecidos e marginalizados em suas igrejas. Muitos desejam servir mais firmemente à Cristo, porém se sentem inúteis para a igreja. O olhar orgulhoso daqueles que já estão posicionados em seus ministérios, e que tomam iniciativas quanto ao trabalho pode colocar aqueles cristãos (chamaremos a eles de fracos a partir deste momento) em cheque sobre qualquer possibilidade de se envolver mais profundamente no serviço.

A Bíblia nos mostra alguns exemplos claros de inclusão e exclusão de pessoas no serviço. Veremos dois destes exemplos. A Palavra nos direciona à uma compreensão muito clara sobre a utilidade e a inutilidade de pessoas no Reino. Todos são úteis. Todos apresentam uma função, referente aos dons delegados pelo Espírito. Além disso, definir a aptidão ou não para exercer um ministério ou trabalho na igreja nos coloca na posição de juízes (se este julgamento for feito em função apenas de achismos, e não pautado em argumentos sólidos). Quando o debate extrapola a aptidão relacionada ao compromisso real com Cristo, é perceptível que estamos julgando por motivos secundários, não o requeridos do servo fiel.

Paulo, de forma muito clara, exclui e divide seu projeto missionário por causa de Marcos (At. 13:13; 15:36-41). Marcos se dispôs a servir, porém desiste no meio do caminho de uma das viagens, e é convidado a se retirar do próximo projeto de Paulo. Em um primeiro momento, é perceptível a irritação do apóstolo, e sua total descrença de que Marcos poderia ter alguma utilidade, tendo em vista seu comportamento anterior. Marcos não era mais uma boa opção para trabalhar, pois não era mais digno de confiança.

A vida pregressa tem sido utilizada, muitas vezes, como fator impeditivo na inserção de membros no serviço à Cristo na igreja. A multidão de pecados encobertos pelo amor e misericórdia de Deus (I Pe 4:8) acaba ficando guardada por nós, e impedindo que o serviço ocorra e que a vida siga.

Paulo, mais à frente em sua caminhada, reintegra Marcos em sua missão, e o considera “muito útil para o ministério” (II Tm 4:11). Sugiro aqui que Paulo tenha mudado, e não Marcos. O seu abandono no passado não foi apagado: ele continua sendo vívido na mente de Paulo. Porém, Paulo certamente passa a ter uma nova compreensão da missão de Marcos, e de sua importância, apesar do que passou. Ele entende que Marcos não pode ser excluído, pois é um irmão em processo de amadurecimento e santificação, e que precisa estar enxertado na videira.


Davi também demonstrava um certo “descaso” com a escolha dos que o seguiam (I Sm 22:1, 2). Davi liderou, por um período, um grupo de personas non gratas, que jamais seriam aceitas para servir ao futuro rei, à época. Davi reinsere esses homens ao serviço, e os dá utilidade e motivação para olharem à frente. Esses seriam seus futuros homens de confiança. Dignidade é dada a eles, e não desconfiança e descrédito.

Dietrich Bonhoeffer, em seu livro “Vida em Comunhão” nos leva a refletir sobre a importância que se tem o serviço na vida da comunidade. Ele afirma:
Na comunhão cristã, tudo depende de que cada pessoa se transforme num elo indispensável de uma corrente. A corrente será inquebrável só quando o menor elo engrenar com firmeza também. Uma comunidade que tolera a existência de membros que não são aproveitados irá à ruína através deles. Será, pois, conveniente que cada pessoa recebe uma tarefa determinada dentro da comunidade, para que, em momentos de dúvida, saiba que também ela não é inútil e inaproveitável. Toda comunhão cristã deve saber que não apenas os fracos necessitam dos fortes, mas que também os fortes necessitam dos fracos. A exclusão dos fracos é a morte da comunhão. Não será a autojustificação e, por conseguinte, a violação que governará a comunhão cristã, mas a justificação por graça e, por conseguinte, o serviço. Quem, alguma vez, experimentou a misericórdia de Deus, dali por diante só desejará servir.”

O cinismo é um câncer na igreja, desde a sua origem. O cínico não se preocupa com as almas, mas se preocupa com as regras. Ele não se preocupa com o Reino, mas se preocupa com os projetos específicos que levam o seu nome. Ele não se sente confortável com o fato de alguns serem destacados antes dele. Ele não suporta que pessoas cresçam, ou que sejam inseridas em posições que ele mesmo julga que não mereçam. Ele está olhando o presente, e não o futuro. Ele olha a propriedade, e não o Dono dela. O cínico considera que conhece as motivações dos que são incluídos no Corpo, mas jamais terá essa capacidade de análise.

Logo, cada um pense pequeno a respeito de si mesmo (Rm 12:3), e não bloqueie o caminho, para que todos sirvam. Se Deus não nos escolhe por nossos méritos ou motivações, que não façamos o mesmo com nosso próximo, rompendo com seus ensinamentos.

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