Segunda, 09 de Setembro de 2013
Sempre pensei em aprofundar um pouco na questão dos métodos de evangelismo usados pela igreja de hoje. Creio
que este texto representa de forma significativa a forma como eu
entendo alguns aspectos do compartilhamento da fé. Essa é uma tradução
livre do texto de Leslie Keeney, e pode conter erros. Caso os encontrem, me ajudem a corrigir.
Qualquer pessoa que já teve alguma lição sobre como compartilhar a sua fé já ouviu algum professor bem intencionado dizer: "Você não precisa saber um monte de palavras difíceis. Apenas conte a sua história. Apenas conte à eles como Jesus mudou a sua vida. Ninguém pode argumentar contra isso".
Então, todos suspiram fundo aliviados porque pensavam que teriam que gastar um bom tempo aprendendo a responder perguntas difíceis, questões como "como você sabe que Jesus ressurgiu dos mortos?" ou "como você sabe que a Bíblia é inspirada?".
Eu entendo porque este método que costumamos chamar de "testemunho" é popular. Pastores bem intencionados acreditam que pessoas ficam assustadas quando falam sobre Jesus às outras, e elas precisam encontrar um método fácil para que possam ensinar suas congregações como compartilhar a sua fé sem necessariamente ter que fazer nada - muito menos algo difícil.
O problema com este método é que ele não funciona mais. Ele poderia até funcionar 20 ou 30 anos atrás, mas em 2013 qualquer cidadão pós-moderno que se preze iria responder "isso pode ser verdade pra você, mas não é verdade para mim". E deveria. Se uma pessoa compartilhando sua fé está dizendo que você deveria experimentá-la porque ela funcionou para ela - se ele está baseando seus argumentos para seguir a Cristo na sua própria experiência - então é justo que a pessoa que responde possa afirmar que a sua experiência é tão válida quanto.
De certa forma, os cristãos que usam somente sua própria experiência para dizer a não-cristãos sobre Jesus estão dando aos pós-modernos uma grande margem de vantagem. Ele está concordando, implicitamente, que o que mais importa é a experiência pessoal, e não a verdade.
Em seu essay "Come Let us Reason" (B&H Academic, 2012), Toni Allen escreve que as mulheres, especificamente, "tendem a depender de sua experiência e conexão emocional com Deus como a primeira justificação para a fé que possuem".
Agora, eu seria a primeira pessoa a dizer que as experiências mais elevadas que temos com Deus são incríveis, alucinantes e impossíveis de serem descritas com palavras. E também diria que, muitas vezes, é a experiência com Deus que nos leva à Ele primeiramente, antes que tenhamos qualquer tipo de respaldo intelectual. Muitas pessoas experimentam Deus antes de sequer ter um contato com as evidências históricas da ressurreição. Mas continua sendo apenas o meu (ou o seu) sentimento. Eu posso dizer a outra pessoa que eu tive uma experiência, mas eu não consigo transferir esse sentimento para ela como se a expusesse à gripe. Como Allen diz, "nossa experiência deve ter um papel importante quando compartilhamos Cristo com não-crentes, mas ela não provê a força convincente e necessária para superar as barreiras intelectuais para a fé".
Vamos colocar de outra forma: se estou conversando com um budista que afirma ter experimentado o Nirvana, e sou capaz de responder apenas descrevendo minha própria experiência de encontro com Jesus, o que diferencia minha experiência da dele? Eu tenho alguma evidência de que o que eu encontrei é o único Deus verdadeiro enquanto a sua experiência foi somente um tipo de transe meditativo?
Não.
E enquanto estamos nisso, como eu sei que a experiência transcendente que eu tive enquanto em êxtase de adoração não era apenas uma sobrecarga emocional alcançada graças às endorfinas, chocolate e a visualização de cachorrinhos ou crianças famintas? Eu realmente não posso usar o argumento de que eu sei que Jesus é real porque Ele mudou minha vida. Vidas podem ser transformadas de várias formas, incluindo anti-depressivos, hipnose, programas de doze passos, ou assistindo ao "Esquadrão da Moda".
Dizer a alguém que tudo o que se deve fazer para compartilhar o evangelho efetivamente é contar a sua história de como Jesus mudou sua vida é fazer um desserviço aos cristãos que necessitam de uma compreensão firme do porquê o Cristianismo é verdadeiro. Isso pode ser danoso para os cristãos que lidam com ateístas que desafiam a sua fé.
É claro que precisamos contar nossas histórias. Humanos são contadores de histórias por natureza. É a forma pela qual nos conectamos. É como aprendemos sobre o outro e como formamos comunidades. O problema é que, em um contexto pós-moderno, uma história não corresponde à uma verdade mais do que outra.
Ainda que contar nossas histórias seja a primeira coisa que façamos quando começamos a compartilhar o evangelho, é necessário que sejamos amparados com boa apologética. "Como sabemos que Cristo ressurgiu dos mortos? Como sabemos que o evangelho é confiável? Como sabemos que nosso hábito de cantar músicas de adoração é diferente das experiências muçulmanas nas orações de fim de tarde?
Essas são questões que a apologética responde. E não importa o quão bem intencionados os pastores estejam para tornar o compartilhar de Jesus fácil, não é! Não é uma brincadeira de criança, mas necessita de um comprometimento sério com o aprendizado do porquê cremos no que cremos.
Como cristãos, temos a verdade do nosso lado. Não o tipo de verdade que nos torna arrogantes (espera-se), mas o tipo de verdade que corresponde à realidade. Existem bons argumentos para a existência de Deus e boas evidências de que Jesus ressurgiu dos mortos. Existem formas lógicas, racionais, cativantes de demonstrar que o cristianismo é a melhor explicação para o que acontece no mundo, incluindo o porquê do inferno existir e porquê as pessoas sofrem, mas um milhão de oportunidades serão deixadas de lado se deixarmos o pós-modernismo ditar as regras.
Então, da próxima vez que um cristão bem intencionado te disser que tudo que você tem que fazer para compartilhar o evangelho é contar sua história às pessoas, pergunte-o como ele sabe que isso é verdade.