quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Porque Contar a sua História não é uma Boa Ideia para Compartilhar o Evangelho


Segunda, 09 de Setembro de 2013 

Sempre pensei em aprofundar um pouco na questão dos métodos de evangelismo usados pela igreja de hoje. Creio que este texto representa de forma significativa a forma como eu entendo alguns aspectos do compartilhamento da fé. Essa é uma tradução livre do texto de Leslie Keeney, e pode conter erros. Caso os encontrem, me ajudem a corrigir. 

Qualquer pessoa que já teve alguma lição sobre como compartilhar a sua fé já ouviu algum professor bem intencionado dizer: "Você não precisa saber um monte de palavras difíceis. Apenas conte a sua história. Apenas conte à eles como Jesus mudou a sua vida. Ninguém pode argumentar contra isso".

Então, todos suspiram fundo aliviados porque pensavam que teriam que gastar um bom tempo aprendendo a responder perguntas difíceis, questões como "como você sabe que Jesus ressurgiu dos mortos?" ou "como você sabe que a Bíblia é inspirada?".

Eu entendo porque este método que costumamos chamar de  "testemunho" é popular. Pastores bem intencionados acreditam que pessoas ficam assustadas quando falam sobre Jesus às outras, e elas precisam encontrar um método fácil para que possam ensinar suas congregações como compartilhar a sua fé sem necessariamente ter que fazer nada - muito menos algo difícil.

O problema com este método é que ele não funciona mais. Ele poderia até funcionar 20 ou 30 anos atrás, mas em 2013 qualquer cidadão pós-moderno que se preze iria responder "isso pode ser verdade pra você, mas não é verdade para mim". E deveria. Se uma pessoa compartilhando sua fé está dizendo que você deveria experimentá-la porque ela funcionou para ela - se ele está baseando seus argumentos para seguir a Cristo na sua própria experiência - então é justo que a pessoa que responde possa afirmar que a sua experiência é tão válida quanto.

De certa forma, os cristãos que usam  somente sua própria experiência para dizer a não-cristãos sobre Jesus estão dando aos pós-modernos uma grande margem de vantagem. Ele está concordando, implicitamente, que o que mais importa é a experiência pessoal, e não a verdade.

Em seu  essay "Come Let us Reason" (B&H Academic, 2012), Toni Allen escreve que as mulheres, especificamente, "tendem a depender de sua experiência e conexão emocional com Deus como a primeira justificação para a fé que possuem".

Agora, eu seria a primeira pessoa a dizer que as experiências mais elevadas que temos com Deus são incríveis, alucinantes e impossíveis de serem descritas com palavras. E também diria que, muitas vezes, é a experiência com Deus que nos leva à Ele primeiramente, antes que tenhamos qualquer tipo de respaldo intelectual. Muitas pessoas experimentam Deus antes de sequer ter um contato com as evidências históricas da ressurreição. Mas continua sendo apenas o meu (ou o seu) sentimento. Eu posso dizer a outra pessoa que eu tive uma experiência, mas eu não consigo transferir esse sentimento para ela como se a expusesse à gripe. Como Allen diz, "nossa experiência deve ter um papel importante quando compartilhamos Cristo com não-crentes, mas ela não provê a força convincente e necessária para superar as barreiras intelectuais para a fé".

Vamos colocar de outra forma: se estou conversando com um budista que afirma ter experimentado o Nirvana, e sou capaz de responder apenas descrevendo minha própria experiência de encontro com Jesus, o que diferencia minha experiência da dele? Eu tenho alguma evidência de que o que eu encontrei é o único Deus verdadeiro enquanto a sua experiência foi somente um tipo de  transe meditativo?

Não.

E enquanto estamos nisso, como eu sei que a experiência transcendente que eu tive enquanto em êxtase de adoração não era apenas uma sobrecarga emocional alcançada graças às endorfinas, chocolate e a visualização de cachorrinhos ou crianças famintas? Eu realmente não posso usar o argumento de que eu sei que Jesus é real porque Ele mudou minha vida. Vidas podem ser transformadas de várias formas, incluindo anti-depressivos, hipnose, programas de doze passos, ou assistindo ao "Esquadrão da Moda".

Dizer a alguém que tudo o que se deve fazer para compartilhar o evangelho efetivamente é contar a sua história de como Jesus mudou sua vida é fazer um desserviço aos cristãos que necessitam de uma compreensão firme do porquê o Cristianismo é verdadeiro. Isso pode ser danoso para os cristãos que lidam com ateístas que desafiam a sua fé.

É claro que precisamos contar nossas histórias. Humanos são contadores de histórias por natureza. É a forma pela qual nos conectamos. É como aprendemos sobre o outro e como formamos comunidades.  O problema é que, em um contexto pós-moderno, uma história não corresponde à uma verdade mais do que outra.

Ainda que contar nossas histórias seja a primeira coisa que façamos quando começamos a compartilhar o evangelho, é necessário que sejamos amparados com boa apologética. "Como sabemos que Cristo ressurgiu dos mortos? Como sabemos que o evangelho é confiável? Como sabemos que nosso hábito de cantar músicas de adoração é diferente das experiências muçulmanas nas orações de fim de tarde?
Essas são questões que a apologética responde. E não importa o quão bem intencionados os pastores estejam para tornar o compartilhar de Jesus fácil, não é! Não é uma brincadeira de criança, mas necessita de um comprometimento sério com o aprendizado do porquê cremos no que cremos.

Como cristãos, temos a verdade do nosso lado. Não o tipo de verdade que nos torna arrogantes (espera-se), mas o tipo de verdade que corresponde à realidade. Existem bons argumentos para a existência de Deus e boas evidências de que Jesus ressurgiu dos mortos. Existem formas lógicas, racionais, cativantes de demonstrar que o cristianismo é a melhor explicação para o que acontece no mundo, incluindo o porquê do inferno existir e porquê as pessoas sofrem, mas um milhão de oportunidades serão deixadas de lado se deixarmos o pós-modernismo ditar as regras.

Então, da próxima vez que um cristão bem intencionado te disser que tudo que você tem que fazer para compartilhar o evangelho é contar sua história às pessoas, pergunte-o como ele sabe que isso é verdade.

21 comentários:

  1. faz sentido.. mas me sinto mais confusa do que antes.. :(

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Flávia, o que o autor está querendo dizer é que o Evangelho é baseado na verdade histórica de que Jesus ressuscitou, se você se baseia somente em suas experiências, outro que também tenha tido uma experiência emocional com alguma outra religião, não vai querer aceitar a sua experiência como razão de mudar de religião, agora se você expõe o Evangelho baseada em fatos: temos um evangelho, que são livros históricos, temos livros de pessoas que testemunharam a ressurreição de Cristo, temos evidências de que esses livros são autênticos etc., já temos argumentos que outros não podem negar, a não ser preconceituosamente.
      Ainda outra coisa, nossa experiência emocional não é suficiente nem para nós mesmos (não estou negando seu valor, mas dizendo que não é suficiente). O que acontece naqueles dias em que você acorda mal, desapontada, ou quanto o dia foi bem ruim? que quando você vai ler a Bíblia, não vê graça, vai orar e parece que o céu é de chumbo? Como você sabe que Deus está ouvindo sua oração? Você sabe porque Jesus afirmou nas Escrituras que tudo que você pedisse Ele faria em Seu nome, e não porque você está sentindo a presença d'Ele ou não; não são seus sentimentos que contam, mas a verdade. Deus a abençoe.

      Excluir
    2. aah o texto eu entendi... mas ficou mais claro agora, muito obrigada! fiquei confusa foi "emocionalmente".. enfim.. obrigada pela atençao, Deus te abençoe tbm

      Excluir
    3. Oi Flávia, o Wladimir foi direto no ponto. A apologética tem um papel de respaldo intelectual da fé do cristão. Assim, é importante que o cristão saiba que a sua crença é coerente, verdadeira e totalmente inserida dentro da história.

      É possível ser um cristão sem apologética? Com certeza! O problema é que em contextos onde somos arguidos e confrontados, ela é importantíssima, e deve ser estudada. Vemos Paulo, por várias vezes, argumentando veementemente e apologeticamente para mostrar que Jesus era o Messias. Assim devemos nos também fazer, conhecendo a razão da nossa fé, e não somente "sentindo" e "emocionando-se" com a ação sobrenatural de Deus, que é muito importante também!

      Caso ainda tenha dúvidas, fique à vontade para questionamentos.

      Excluir
  2. Bom texto. Desperta vontade de conhecer mais sobre o que cremos.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Muito bom saber Felipe! Certamente era intenção da autora do texto trazer esse tipo de despertamento!

      Excluir
  3. Sempre pensei nisso, e muitas vezes me senti confusa com testemunhos que de fato não engrandeciam a Deus, daqueles que priorizam o Eu! Creio que devemos compartilhar com as pessoas o que Deus fez em nossas vidas, contudo devemos testemunhar com temor, não só contando o que Deus fez mas quem Ele É. É necessário conhecer mais a palavra de Deus e falar mais do que esta Nela do que o que falar daquilo que esta dentro de nos como verdade. Precisamos reconhecer a Bíblia como verdade e não somente experiências.

    ResponderExcluir
  4. Ta aí um cara que através de sua história levou o evengelho ao mundo!

    Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!
    E por isso, se o faço de boa mente, terei prêmio; mas, se de má vontade, apenas uma dispensação me é confiada.
    Logo, que prêmio tenho? Que, evangelizando, proponha de graça o evangelho de Cristo para não abusar do meu poder no evangelho.
    Porque, sendo livre para com todos, fiz-me servo de todos para ganhar ainda mais.
    E fiz-me como judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estão debaixo da lei, como se estivesse debaixo da lei, para ganhar os que estão debaixo da lei.

    1 Coríntios 9:16-20

    Jesus falava por parábolas que muitas vezes eram histórias de vida!
    Creio que história por história todo mundo tem uma pra contar porém a redenção só pode ser manifesta através dos filhos de Deus, se não, daqui a pouco the stones will talk!
    Temos que tomar cuidado para não cairmos no muito saber dos fariseus e pouca vida com Deus!
    Até rimou! rsrs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Vinícius, não sei se entendi direito o que quis defender nos seus escritos. De qualquer forma, há sim uma história para contar. A história de Cristo! Esta sim é atemporal e transpassa as gerações. A crítica do texto é referente à ficar contando a MINHA história pessoal, e usando-a para tentar convencer ao outro de que a minha fé é a verdadeira.

      A vida com Deus inclui o conhecimento profundo das escrituras. Dessa forma, não consigo ver um crente fiel que não estuda as escrituras com seriedade. É como deixar o seu filho nas mãos de um médico que nunca leu nenhum dos livros da sua faculdade. Extremamente perigoso e desaconselhável!

      Em relação a Paulo, acho muito importante entender cada contexto de suas falas. Paulo foi um grande apologeta, e é responsável por grande parte das argumentações em defesa da fé cristã até aos dias de hoje.

      Que Deus te abençoe!

      Abraço

      Excluir
  5. Pra começar as pesquisas... http://www.truthortradition.com/portuguese/modules.php?name=News&file=article&sid=61

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa Arthur! Em breve vou ver se posto um texto com as minhas referências de estudos apologéticos!
      Obrigado!
      Abraço

      Excluir
  6. Nasci em um lar de gente crente, minha mãe sempre me levou á igreja, mas às vezes eu me pergunto e pergunto à ela:

    Como vc sabe que existe céu e inferno?
    Vc tem certeza de está na fé certa?
    Como tem certeza de que Jesus é o Filho de Deus?

    A resposta sempre foi a mesma:
    Eu creio.

    Então me lembro da passagem bíblica: João 20:29 " ... Bem aventurados os que não viram e creram"

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ei llia, certamente não precisamos conhecer todos os dados comprováveis de que a fé cristã é verdadeira para crermos. Além disso, o fato de termos essas informações não nos coloca na mesma posição de Tomé.

      A questão colocada aqui é que o conhecimento dessas verdades é útil para que possamos ser mais verdadeiros e coerentes em relação ao discurso de nossa sociedade. Não estamos mudando a nossa fé, mas apenas atentando para a realidade que nos envolve, sem referências absolutas, sem valores morais e pautada na experiência.

      Deus te abençoe!

      Excluir
  7. Ovelhas que pensam são ovelhas que acompanham a evolução da sociedade, senão, qual será a a diferença entre um crente e os que ainda não conhecem a Cristo como salvador se ele se comportar como um amish, ou menonita do séc, 21?

    ResponderExcluir
  8. Esse texto é forte. Muito bom, mas não compartilho ele pq sei que tem gente que não está preparadas pra ler isso. Eu mesma tô sob impacto do texto.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, é meio complicado mesmo... Fora que o cara não "clareou" a maneira de "fazer certo"...

      Excluir
    2. O texto é um tanto quanto contra-sistêmico. Ele vai contra a corrente evangélica atual, e nos coloca para refletir sobre nossos métodos e visão do cristianismo.

      Acho salutar repensarmos sempre a nossa fé, e buscarmos sinceridade e verdade diante de Deus a todo tempo. O nosso compromisso não é com o bem estar do próximo, mas com a verdade! Sendo assim, fico feliz que esteja sob impacto! Talvez esse impacto seja importante para o seu crescimento na fé e para o reajuste da sua visão do cristianismo puro e simples! :)

      A crise tem um papel muito importante na vida do cristão: ela nos ensina a sairmos do nosso conforto. Pelo que conheço do evangelho de Jesus, certamente Ele veria a crise como uma oportunidade para o crescimento.

      Quanto à maneira de "fazer certo", cabe a cada cristão refletir, pensar, estudar e buscar esse fazer. Não é tarefa fácil falar de Cristo. Demanda sacrifício e abnegação, desprendimento e entrega. O que não podemos é criar um método básicão para todos, como se fôssemos máquinas, e saíssemos por aí falando de Cristo de maneira impessoal e mecanizada.

      Um abraço!

      Excluir
  9. Prezado Wladimir, boa tarde!

    Quais são os livros de pessoas que testemunharam a ressurreição de Cristo? Quais as evidências de que esses livros são autênticos? Quais são os argumentos que outros não podem negar, a não ser preconceituosamente? Pergunta sincera. Sou cristão e gostaria de inteirar-me mais no assunto. Abraço! Graça e paz!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Daniel, citarei alguns que me vieram à mente agora, ok?!
      Tem o "Mais que um carpinteiro", do Josh McDowell, que vai tratar de todas essas questões de maneira geral. Aí, nos capítulos do livro, ele cita outros que dão suporte à argumentação.

      Um livro precioso é "Merece Confiança o Novo Testamento?", de F.F. Bruce. Esse apresenta um estudo profundo e sério em relação à confiabilidade das escrituras.

      A partir destes dois, vai descobrindo mais livros legais.

      Um abraço, e fique na paz!

      Excluir
  10. Muito Bom Eric!
    O relativismo entrou com tudo no mundo e se aprofundar em conhecimento da Verdade que quebra todo o jugo dele é a unica saída para exemplificar a vida em Cristo.

    ResponderExcluir