Muito se têm questionado a fé cristã desde o nascimento do cristianismo, no século I. Após o Iluminismo, além de questionada, a fé cristã passou a ser desacreditada e combatida com mais força, começando de dentro da academia, e causando grande repercussão em nossa sociedade, que tem se tornado cada vez mais cética. Atualmente, além dos esforços externos de desconstruir a fé cristã, percebemos que dentro das próprias igrejas têm havido movimentos (na maior parte involuntários) que acabam por ter o mesmo efeito. Explico.
Não é novidade que as denominações neopentecostais (onde estive por um ano) apresentam uma teologia deformada com enfoque na prosperidade e na total sujeição das ovelha à liderança dentro dessas denominações. Essa entrega parte da ideia de que as doutrinas neopentecostais são inquestionáveis, o que facilita o 'emburrecimento' dos membros, que não apresentam critério algum para julgar as ações e decisões tomadas, bem como as instruções recebidas pela liderança dessas igrejas.
Esses movimentos, apesar de obterem um aumento considerável no número de membros, têm também deixado muitos de seus fiéis no meio do caminho. Vemos com muita frequência pessoas decepcionadas com essas lideranças, desigrejadas agora por não acreditar mais que a igreja é um lugar onde se vive um cristianismo sincero e sem interesses escusos. Além disso, outros são levados a abandonar a igreja por entenderem que há uma total ausência de sentido em algumas práticas, que só levam em conta o emocionalismo e a total entrega às experiências 'espirituais', desfacelando o cristianismo autêntico.
Por outro lado, tenho percebido que há um evangelho sendo pregado em igrejas históricas (por incrível que pareça) que também deixa-nos em uma situação desajustada. Há na fala de muitos pregadores uma certa marginalização do tema da graça, enquanto que a disciplina, a cobrança e a demanda por obras têm recebido uma ênfase maior. É nesse ponto que desejo me ater.
O desvínculo da teologia pregada no púlpito com a graça faz com que a fé perca seu pilar maior, causando algumas consequências, dentre as quais destaco a desmotivação na caminhada de fé por parte das ovelhas e até mesmo o surgimento de um falso 'avivamento' (para ler mais, dê uma olhada em 1), onde as ovelhas são forçosamente motivadas pelo cajado mais do que pelo Espírito. Nesses casos, o medo se torna o motivo para a ação, e a busca pela glória de Deus acaba sendo deixada de lado.
A exortação que vem cheia de ira faz com que sejam lançadas no púlpito palavras pesadas e que não levam em conta que o nosso Deus é cheio de graça, e que o Seu amor cobre multidões de pecados, e impele seu povo ao Ministério. A disciplina não pode ser tema central das pregações, e o evangelho não pode ser empurrado 'goela abaixo' para os fiéis, que muitas vezes merecem a disciplina, porém não dessa forma.
Jesus sempre confrontou os religiosos. Ele se compadecia dos humildes e dos fracos. Aqueles que achavam que eram alguma coisa constantemente recebiam adjetivos pesados e difíceis de serem digeridos. Em nossas igrejas, certamente encontramos os dois públicos: religiosos (no sentido ruim da palavra) e devotos sinceros. Pessoas que precisam ter um despertamento para as verdades bíblicas, e pessoas que estão vivendo uma vida coerente e lutam por isso. Creio que a sensibilidade de quem prega deve ir além de um desejo interno de induzir o rebanho aos seus ideais. Deve-se corrigir em amor, e amar com disciplina. Todos somos devedores e servos inúteis, porém essa compreensão só é dada pelo Espírito, quando este tem liberdade para agir.
Exigir que a igreja viva para aquilo para o qual não foi despertada pelo Espírito é, ao meu ver, um atentado à fé e à graça. Deus opera em nós o querer e o efetuar, Ele nos constrange e nos exorta de modo que não temos reação outra senão responder ao Seu chamado. Temo que a submissão às doutrinas que têm em conta metodologias para alcançar a vontade de Deus sejam bem vindas no povo do Senhor. Fugir das filosofias humanas respaldado em uma ação irracional e inconsistente, que descarte o fato de que Deus é o Senhor da Igreja é, no mínimo preocupante. É criar uma filosofia pessoal, que apenas rejeita as demais. E não passa disso. É a rejeição do conhecimento da humanidade em favor do entendimento individual de um ser humano.
Desejo que a graça volte a ser pregada como tema central dos púlpitos, e que o amor de Deus seja o agente que constranja o seu povo a agir e a viver uma vida mais ativa com o Pai. Não acredito, de modo algum, que alguma metodologia venha a promover uma ação maior da igreja em qualquer âmbito. Que Deus dê discernimento ao Seu povo, do qual faço parte e desejo ardentemente que Ele seja Vida em nós, Luz sobre nosso caminho, e a Filosofia (com F maiúsculo, que vem do alto), coerente e cheia de frutos para os que nEle esperam.
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